*por Fabio Boucinhas, CEO da Home Agent
Quando completamos um ano e meio de pandemia e da adoção às pressas do trabalho remoto, pode parecer repetitivo falar sobre os desafios na gestão de pessoas nesse formato de atuação. Mas em uma época em que o home office foi implementando de forma quase que obrigatória e sem preparo das Companhias, se tornando distante de ser o modelo ideal, como não atravessar o frágil limite de gestão e controle de pessoas? Gestão ou controle: mais desafios do trabalho remoto.
Antes de comentar sobre esse limite, vale fazer uma breve regressão ao home office que é adotado na atualidade. Ainda que o avanço da vacinação no Brasil permita uma retomada gradual e com cautela, por mais de um ano as pessoas passaram a contar com a comodidade de poder trabalhar de casa, mas com a preocupação de um vírus desconhecido e a impossibilidade de viver a vida “normalmente”. Até o momento em que nos encontramos, quem conseguiu adotar o home office manteve somente a rotina de trabalho da forma como costumava – com alguns trancos e barrancos. Mas todos as outras áreas da vida foram impactadas: vida social, entretenimento, esportes e, principalmente, saúde, para mencionar alguns exemplos. E isso pôde ser visto depois que a poeira baixou, pois ficou mais fácil de enxergar o que está e não está funcionando.
Esse cenário, somado ao fato de que poucas empresas estavam preparadas para um formato completamente remoto, foi adquirindo cada vez mais novos desafios, sendo o mais urgente deles aquele relacionado à saúde mental. E a preocupação é legítima: de acordo com estudo recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que ouviu 464 participantes, 56% tiveram dificuldades em manter o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional durante a pandemia. Além disso, depressão e ansiedade são a terceira causa de afastamento do trabalho.
Repito que o home office como o conhecemos hoje não é o home office raiz com o qual criamos a primeira operação de atendimento totalmente remota. Cometeria uma injustiça ao comparar os dois formatos – e os dois contextos. Mas é preciso ter formas de minimizar os impactos negativos do formato no qual temos trabalhado nos últimos 18 meses. E o primeiro passo para isso é olhar para as pessoas e acolhê-las, ao mesmo tempo que gerimos seu tempo e dedicação.
A discussão se o gerenciamento remoto de tempo e produtividade é uma forma de controle se estende, porque volto ao começo da conversa: qual é o limite entre gerir colaboradores ou mantê-los sob constante observação? Para mim, a resposta passa por bom-senso e confiança. As duas coisas são fundamentais para uma gestão remota eficaz, que não supervisione a equipe, mas esteja próxima em momentos de necessidade. Se você não confia que uma pessoa possa exercer seu trabalho da forma adequada sem vigiá-la, talvez essa pessoa não seja ideal para o seu time – ou você tenha um perfil muito centralizador.
Indo na direção contrária de criar novas reuniões para a gestão ou follow up de projetos, pense em formas de deixar claro à sua equipe que você confia nela e está presente sempre que alguma necessidade urgente ou um pedido extraordinário surja. Mostre-se disponível e acolha. Adote ferramentas que permitam que a gestão possa atuar somente nos pontos que realmente demandem sua atenção. Muito mais que fazer a gestão manual de horas de trabalho – já que existem formas automatizadas para essa gestão – ou controlar as tarefas, seja um ponto de apoio do time e divida o seu tempo sempre que for preciso.
Ajude a equipe a estabelecer limite para a jornada de trabalho, respeite pausas e o tempo livre de todos – incluindo o seu. Com menos postura de controle e mais atitude de parceria, o trabalho remoto tem menos ruptura e você pode se tornar um agente que vai potencialmente melhorar o dia a dia de muitos brasileiros que se queixam da falta de work-life balance. O uso de ferramentas que dão visibilidade à gestão da produtividade de seu time, permite dar à gestão condições de oferecer liberdade com confiança, atuando somente nos casos que realmente estiverem apresentando qualquer desvio.
Apesar de empresas com sintomas diferentes, o objetivo de solução é semelhante: manter a produtividade em níveis saudáveis de gestão, sem precisar sufocar o time – para isso é necessário se apoiar em processos e ferramentas, que proporcionem esta escala de gestão, deixando as interações para quando elas realmente fazem sentido. Gestão ou controle: mais desafios do trabalho remoto.
A gestão remota e o vigiar podem ser semelhantes, mas a primeira tem o potencial de ajudar a reverter a onda de burnout que assola o Brasil – enquanto a segunda só piora esse cenário. E você, que tipo de gestor quer ser?